Ontem (14/07/12), eu e meus
amigos fomos participar da Marcha das Vadias aqui em Curitiba, e esse movimento
me trouxe a vontade de escrever sobre algumas questões que ultimamente não saem
de minha cabeça.
Primeiramente convém explicar a
origem desse movimento e suas principais razões de existência. A Marcha surgiu
no Canadá em 2011, devido a uma fala extremamente infeliz de um policial
canadense da cidade de Toronto responsabilizando as mulheres pelos crescentes
casos de abuso sexual na região. O policial fez a seguinte observação: “as
mulheres devem evitar se vestir como vadias (Slut) para não serem vítimas de
abuso sexual”. Toda a carga de dominação patriarcal e preconceito desta frase
fizeram com que diversos movimentos feministas no mundo todo organizassem
protestos e insurgissem sua voz contra todas as formas de violência física e
simbólica contra a figura da mulher.
O Feminismo por si só foi um
movimento que ao longo do século XX conquistou muitas coisas para uma relação
mais igualitária na questão de gênero, principalmente na participação política
(direito ao voto) e a uma maior participação e valorização feminina no mundo do
trabalho. A participação da mulher na esfera pública (que a sociedade burguesa delegou somente ao homem) foi uma conquista
significativa ao longo do século. Porém,
no que se refere a violência contra a mulher
e o direito ao uso de seu corpo e de sua sexualidade, ainda existem
tabus muito complicados de se derrubar.
Os casos de violência contra a
mulher no Brasil ainda são alarmantes, com milhares de mortes todos os anos, em
diferentes tipos de violência (violência doméstica, abuso sexual, etc.). E
apesar de casos cotidianos de horror e barbárie que vemos todos os dias na TV,
e na internet, a sociedade brasileira não dá a devida importância. A questão
aqui é se perguntar o porque da banalização de toda essa violência em nosso dia
a dia, a “coisificação” do corpo
feminino e a dominação do discurso patriarcal sobre a sexualidade feminina
legitima perfeitamente tudo isso. As mulheres ainda não têm o direito de
exercer sua sexualidade na maneira que bem entendem. Nós homens a todo o
momento queremos ditar regras de conduta e exercer controle sobre o corpo
feminino. Por exemplo, a mulher que
decide usar seu corpo como fonte de prazer (como nós, homens, temos o
privilégio de fazer todos os dias sem medo de ser feliz) são chamadas de tudo
quanto é nome , passível de sofrer por todas as formas de violência moral e
psicológica. Além do aspecto mais sombrio do machismo (causa de 99% casos de
violência), que é crença que muitos homens tem de que podem invadir o corpo da
mulher, tratando-as como meros objetos sexuais (agradeçam as propagandas de
cerveja e aos filmes pornôs por isso...). Enfim, a Marcha das Vadias nasceu (no
nome e na forma de protestar) com o intuito de lutar contra todo esse cotidiano
sombrio nas relações de gênero.
Quando comecei a me dar conta
desse contexto, a partir de muitas leituras, e de conversas com meus amigos,
percebi que o Feminismo é uma ótima oportunidade para nós homens podermos se
libertar de alguns “fardos” que o discurso machista nos obriga a carregar. É
discurso que nos levará a nossa “Revolução Sexual”. Explico, todos os privilégios que temos (Homens)
nas relações de gênero (O direito ao uso do corpo, passe livre na esfera
pública, etc.) só podem ser exercidos a partir do momento em que nós nos
comportemos seguindo um estereótipo do que é ser “Homem”. Ou seja, ter esse
privilégio requer um modelo de conduta bem rígido. Exemplos, temos a todo o
momento que ser a figura provedora da casa (o homem que decide cuidar da casa e
dos filhos e delegar a figura provedora a sua mulher, já perde alguns pontos de
masculinidade entre os amigos, além da descrença alheia, já que se criou a
imagem de que o homem não tem a capacidade de cuidar da família). Desde pequenos temos que gostar
de azul e não usar rosa. Não podemos escolher empregos identificados com a
figura da mulher. Temos que se comportar
como “machão” em diferentes situações, falar obrigatoriamente de assuntos
masculinos (futebol, carros, etc.). Enfim, a nossa identidade e liberdade de
escolha são cerceadas pelo discurso machista, que obrigam, nós homens, a se
comportar a partir de um estereótipo que não faz mais sentido em pleno Século
XXI. Por essas e outras, busco minha revolução e grito com orgulho, SOMOS TODAS
VADIAS!