domingo, 15 de julho de 2012

Eu também sou vadia: O Feminismo enquanto (minha) libertação masculina.

 


     Ontem (14/07/12), eu e meus amigos fomos participar da Marcha das Vadias aqui em Curitiba, e esse movimento me trouxe a vontade de escrever sobre algumas questões que ultimamente não saem de minha cabeça.
    Primeiramente convém explicar a origem desse movimento e suas principais razões de existência. A Marcha surgiu no Canadá em 2011, devido a uma fala extremamente infeliz de um policial canadense da cidade de Toronto responsabilizando as mulheres pelos crescentes casos de abuso sexual na região. O policial fez a seguinte observação: “as mulheres devem evitar se vestir como vadias (Slut) para não serem vítimas de abuso sexual”. Toda a carga de dominação patriarcal e preconceito desta frase fizeram com que diversos movimentos feministas no mundo todo organizassem protestos e insurgissem sua voz contra todas as formas de violência física e simbólica contra a figura da mulher.
    O Feminismo por si só foi um movimento que ao longo do século XX conquistou muitas coisas para uma relação mais igualitária na questão de gênero, principalmente na participação política (direito ao voto) e a uma maior participação e valorização feminina no mundo do trabalho. A participação da mulher na esfera pública (que a sociedade burguesa  delegou somente ao homem) foi uma conquista significativa ao longo do século.  Porém, no que se refere a violência contra a mulher  e o direito ao uso de seu corpo e de sua sexualidade, ainda existem tabus muito complicados de se derrubar.
   Os casos de violência contra a mulher no Brasil ainda são alarmantes, com milhares de mortes todos os anos, em diferentes tipos de violência (violência doméstica, abuso sexual, etc.). E apesar de casos cotidianos de horror e barbárie que vemos todos os dias na TV, e na internet, a sociedade brasileira não dá a devida importância. A questão aqui é se perguntar o porque da banalização de toda essa violência em nosso dia a dia,  a “coisificação” do corpo feminino e a dominação do discurso patriarcal sobre a sexualidade feminina legitima perfeitamente tudo isso. As mulheres ainda não têm o direito de exercer sua sexualidade na maneira que bem entendem. Nós homens a todo o momento queremos ditar regras de conduta e exercer controle sobre o corpo feminino. Por exemplo,  a mulher que decide usar seu corpo como fonte de prazer (como nós, homens, temos o privilégio de fazer todos os dias sem medo de ser feliz) são chamadas de tudo quanto é nome , passível de sofrer por todas as formas de violência moral e psicológica. Além do aspecto mais sombrio do machismo (causa de 99% casos de violência), que é crença que muitos homens tem de que podem invadir o corpo da mulher, tratando-as como meros objetos sexuais (agradeçam as propagandas de cerveja e aos filmes pornôs por isso...). Enfim, a Marcha das Vadias nasceu (no nome e na forma de protestar) com o intuito de lutar contra todo esse cotidiano sombrio nas relações de gênero.
   Quando comecei a me dar conta desse contexto, a partir de muitas leituras, e de conversas com meus amigos, percebi que o Feminismo é uma ótima oportunidade para nós homens podermos se libertar de alguns “fardos” que o discurso machista nos obriga a carregar. É discurso que nos levará a nossa “Revolução Sexual”.  Explico, todos os privilégios que temos (Homens) nas relações de gênero (O direito ao uso do corpo, passe livre na esfera pública, etc.) só podem ser exercidos a partir do momento em que nós nos comportemos seguindo um estereótipo do que é ser “Homem”. Ou seja, ter esse privilégio requer um modelo de conduta bem rígido. Exemplos, temos a todo o momento que ser a figura provedora da casa (o homem que decide cuidar da casa e dos filhos e delegar a figura provedora a sua mulher, já perde alguns pontos de masculinidade entre os amigos, além da descrença alheia, já que se criou a imagem de que o homem não tem a capacidade de cuidar  da família). Desde pequenos temos que gostar de azul e não usar rosa. Não podemos escolher empregos identificados com a figura da mulher.  Temos que se comportar como “machão” em diferentes situações, falar obrigatoriamente de assuntos masculinos (futebol, carros, etc.). Enfim, a nossa identidade e liberdade de escolha são cerceadas pelo discurso machista, que obrigam, nós homens, a se comportar a partir de um estereótipo que não faz mais sentido em pleno Século XXI. Por essas e outras, busco minha revolução e grito com orgulho, SOMOS TODAS VADIAS!