quinta-feira, 5 de maio de 2011

Reflexões sobre o ateísmo radical e ao Deus "Ciência"

             Nas últimas semanas venho refletindo intensamente sobre o papel da Religião, da espiritualidade e do pensamento mítico nas sociedades humanas ao longo da História. Vivemos atualmente (Sociedade Ocidental) sob um discurso (moderno em sua essência, consolidado do século XIX) que define o pensamento científico e racional como o mais legítimo e portanto mais "verdadeiro" na interpretação dos fenômenos humanos e naturais em nosso planeta. A partir desse pensamento (hegemonico),  criou-se um discurso tratando os fenomenos e as manifestações religiosas como anomalias irracionais imcompreensíveis frente a um mundo moderno inteiramente explicado e analisado pela Ciência.
            Richard Dawkins e cia. culpabilizam os fenomenos religiosos (e a crença em DEUS) como  os responsáveis por todos os males economicos e sociais de países que ainda tem a religião como um de seus discursos hegemonicos. Assim como enfatizam o pensamento religioso como a única explicação no modus operandi de grupos terroristas em seus diversos ataques ao longo dos ultimos anos. Desta forma, estes "intelectuais" buscam inferiorizar e culpabilizar o pensamento mítico e religioso frente a uma falsa "objetividade" e "neutralidade" do pensamento científico. Basta lembrar que a "Era dos Extremos" (de horrores como o Holocausto Nazista e outros genocídios), como chamou o historiador inglês Eric Hobsbawm, é justamente o século que se diz o mais "evoluído" por subjulgar o pensamento mítico. Evoluído pra quem cara pálida?
            A questão aqui é que boa parte das pessoas que se dizem ateus e que defendem cegamente a descrença em Deus, tentando ridicularizar o pensamento religioso através da lógica científica não se dá conta que está sendo tão "crente" quanto qualquer radical religioso que nós encontramos por ai. Parafraseando Nietzsche, A partir do século XIX o Deus Ciência tira o Deus Cristão de seu trono e assume sua condição de "verdade inquestionável", assim como o Cristianismo era na Europa até a modernidade.
          Quem ridiculariza o pensamento religioso e a espiritualidade chamando de irracionalidade, imbecilidade  e/ou nem digna de estudo não consegue perceber a importância deste aspecto da vida humana em todas as sociedades do presente e do passado (A Antropologia nos mostra como o pensamento mítico é encontrado em todas as sociedades humanas já conhecidas). A busca pela espiritualidade, explicação e interpretação de onde somos e viemos, e as orientações morais da vida em sociedade nos definem enquanto seres humanos, assim como o uso da razão.
           Meu objetivo aqui não é simplesmente fazer uma defesa da religião ou dizer que ela é melhor ou pior que o pensamento científico. O que quero dizer é que tanto a cosmologia mítica e religiosa, quanto o pensamento racional científico são construções humanas que tem uma história e que mudam de cultura para cultura. São interpretações que o homem fez de seu mundo, e que ambas tem discursos e práticas que podem nos ajudar a viver harmonicamente em sociedade. (Assim como o contrário, já que são os humanos que constróem e interpretam estes discursos, para o bem e para o mal)
         Terminando meu protesto por aqui, só relembrando que (na minha opinião) o personagem mais significativo do século XX em compreensão do que é ser humano era um reverendo cristão (portanto religioso) norteamericano, ai fica minha homenagem a Martin Luther King Jr.
       E também dedico esse devaneio pseudo-intelectual...hahaha...a meu amigo João Paulo de BH...que morou comigo nos Estados Unidos e (com algumas de nossas conversas) me fez perder muitos dos preconceitos que eu tinha acerca da  religião (e de certa forma de seus praticantes) com sua generosidade, bondade e sabedoria sobre o que é ser humano e estar de bem com sua espiritualidade.

                                          Fuis!!!!