sexta-feira, 12 de abril de 2013

Semifinais da Champions League: Os Novos Paradigmas do Futebol Mundial (parte I)



   A temporada 2012/2013 da maior e melhor competição de clubes do mundo colocam frente a frente (talvez) os 4 melhores  clubes do futebol mundial na atualidade. Bayern Munchen, Borussia Dortmund, Barcelona e Real Madrid, em termos táticos e técnicos, trazem o que há de melhor e mais moderno no mundo da bola. A minha satisfação em ver estes 4 clubes chegarem ao topo da Europa me incentivaram a compartilhar minha percepções sobre o futebol jogado de cada um deles. Vamos aos alemães primeiramente!


Borussia Dortmund  - Jurgen Klopp e o novo futebol alemão
   

   O atual bi-campeão da Bundesliga, liderados por seu grande treinador Jurgen Klopp e por uma nova geração de jogadores alemães (e poloneses) brilhantes, vem há tempos demonstrando ao mundo, em termos táticos, o que há de mais moderno e atual no campo de jogo. Jogando no 4-2-3-1 (sistema  tático dominante entre os grandes da Europa), esse Borussia é o time que disparado tem a maior dinâmica de movimentação ofensiva e recomposição defensiva, em um contexto em que o futebol se torna a cada dia cada vez mais veloz.
   Defensivamente, é o time que tem a melhor marcação pressionada ( no campo do adversário) do mundo. Os 4 jogadores ofensivos do time (Gotze, Reus,  Błaszczykowski (Kuba) e Lewandowski) se movimentam o tempo todo pressionando os jogadores de defesa do time adversário, complicando demais a saída de bola do adversário (roubar bola no campo adversário é pegar a defesa desmontada!!) e aliviando a pressão sobre seus volantes (Gundogan e Bender) e seus defensores (Schmelzer, Piszczeck, Subotic e Hummels). Além disso, é o time as com linhas de marcação mais compactadas do futebol mundial, em vários momentos do jogo você o time todo marcando distribuido em um raio de 20 a 30 metros do campo (lembrem-se que o campo tem 100 metros!!!). Essa aproximação entre as linhas diminui demais os espaços para o ataque adversário, que os obriga a construir jogadas em um espaço muito limitado (e jogar em espaço limitado exige muita técnica e velocidade – e isso são poucos times que tem). Estas características defensivas complicaram demais o Real Madrid na fase de grupos da Champions (lembrem-se que o Madrid perdeu na Alemanha e apenas empatou no Bernabeu – sendo dominado nos dois confrontos) . E provavelmente neste confronto das semis os meregues vão ter que comer muita grama para vencer os alemães (mas isso é conversa pro próximo post)
   Ofensivamente, além da marcação pressionada que gera contra-golpes fulminantes, o Dortmund cria espaços e jogadas a partir da movimentação incrivel de seus 4 jogadores de frente, com destaque para os excelentes Marco Reus e Mario Gotze. Jogadores oriundos da nova geração alemã, Reus e Gotze reunem o que há de melhor  em um jogador moderno (Técnica, inteligencia e velocidade), além de uma boa pitada de talento (até parecem jogadores brasileiros – ou argentinos). Outra jogada ofensiva fulminante do time  é utilização de Lewandowski como pivô  em lançamentos longos vindos da defesa. O artilheiro polonês prepara a bola para a entrada de um dos 3  jogadores de meio para fazer o gol! Apesar de ser o menor clube em comparação  aos outros 3 gigantes dessas semifinais, o Dortmund tem totais condições de conquistar a Europa pela segunda vez.


Bayern Munchen – A vitória vem pelas pontas!!!


    O Gigante da Baviera (4 vezes campeão da Europa – e vice ano passado) vem ainda mais forte que na temporada passada.  Contratações cirurgicas de ótimos jogadores ( Dante, Javi Martinez, Shaqiri e Mandzukic)  colocaram o elenco bávaro como um dos mais fortes e competitivos do mundo.  Ou seja, além dos jogadores que compõem a espinha dorsal da belissima seleção alemã (Neuer, Boateng, Lahm, Schweinsteiger, Muller e Kroos) e dos pontas talentosos Robben e Ribery, o Bayern conta agora com ótimas peças de reposição para manter o mesmo nível durante toda a temporada. As virtudes da equipe de Jupp Heyneckes nesta temporada (também jogando no 4-2-3-1)  estão concentradas em sua defesa quase impenetravel (13 gols em 28 jogos na Bundesliga – com destaque para a temporada belíssima do zagueiro brasileiro Dante) e de sua força ofensiva pelas laterais e pontas ( Menção honrosa ao monstro Philip Lahm!!! Disparado o melhor lateral do mundo!!)
     Defensivamente, O Bayern vem vivendo uma de suas melhores temporadas de sua história. Tem uma zaga muito consistente, liderados pelo garoto Dante (18 anos) , que jogou todas as partidas pelo time bávaro na champions desta temporada. Van Buyten e Boateng vem revezando ao longo do torneio como companheiros de zaga do brasileiro. É uma zaga muito alta, de grande porte físico e de boa técnica na saída de bola (especialmente com Dante). O time também tem 2 belissimos laterais que compõem a primeira linha defensiva, O jovem austriaco Alaba e o melhor lateral do mundo Lahm ( Todo o talento ofensivo de Lahm proporciona a única fraqueza defensiva do time, jogar nas costas do lateral alemão é o caminho das pedras para vencer o time bávaro!). Javi Martinez e Schweinsteiger formam uma dupla de volantes que tecnicamente é uma das melhores de mundo (ótima saída de bola e consistencia defensiva!).
    Ofensivamente, toda a força do Bayern estão nas jogadas de linha de fundo com os pontas nessa linha de 3 atrás do centroavante (Thomas Muller e Franck Ribery), com a ajuda de toda a força ofensiva dos laterais Alaba e Lahm. O jogador responsável em empurrar os cruzamentos e assistencias vindas da linha de fundo para as redes é o ótimo atacante croata Mandzukic. Atacante alto e de boa técnica, ele é o matador desta temporada (Eles ainda tem no banco Mario Gomez e Pizarro para a posição). As jogadas paradas também são uma grande arma do time bávaro (já que é um time de estatura consideravel – o Barça que se cuide nessa semi!!). A forç a do Bayern também pode ser encontrada no banco de reservas da equipe. Shaqiri, Gomez, Robben (será o titular com a contusao de Kroos) e Pizarro são jogadores capazes de botar fogo em qualquer jogo, e com certeza seriam titulares de equipes de bom nivel na europa.  Enfim, o peso da camisa, o elenco e a consistência enquanto equipe coloca o Bayern como um grande candidato ao título esse ano!!
   
      É isso. Amanhã postarei sobre os gigantes espanhóis Real Madrid e Barcelona!! Valeu!!

domingo, 2 de dezembro de 2012

Tentando entender o termo: “Ditadura do políticamente correto”



                                          "O Riso dos Outros" (Direção Pedro Arantes) 

 Depois de assistir o sensacional documentário “O Riso dos Outros”, que trata do contexto atual do humor ( especialmente do Stand Up comedy)  no Brasil, bati o martelo sobre uma expressão que as vezes me deixa horrorizado nos contextos onde é normalmente usado: “Vivemos sob uma ditadura do políticamente correto”. Essa famosa frase é usada em casos onde se quer defender  uma piada e/ou um discurso humorístico  direcionada a uma determinada minoria ou a situações trágicas (normalmente inferiorizando e reforçando estereótipos de seu alvo). Entre os considerados como a primeira linha do humor em pé nacional, alguns comediantes famosos reproduzem essa frase a cada  5 minutos para tirar seu corpo fora de sua responsabilidade na formação da opinião na esfera pública.
     Esse documentário solidificou de vez algumas desconfianças que sempre tive em relação aos “Rafinha Bastos e Danilos Gentilis”da vida.  1) Que além de pessimos comediantes, são extremamente preguiçosos ao se contentarem em reproduzir e fazer piadas que já são parte do cotidiano desde o século XIX – piadas de negros, gordos, sexistas, etc.)  2)  De terem uma noção de sociedade, ação política e discurso extremamente limitada 3) Que por causa das duas alternativas anteriores, nada mais são do que os paladinos morais e guerreiros do “status quo”. E os mesmos ainda se considerarem como os transgressores da moral e dos bons costumes ( Daquele tipo, sou transgressor porque falo palavrão na TV!!!) .
         Sobre a primeira desconfiança, como o documentário bem demonstra, são comediantes que não tem personalidade alguma, que simplesmente são pagos pra fazer piadas sobre coisas que a sociedade já inferioriza e transforma em piada desde sempre ( E boa parte deles reproduz seus próprios preconceitos – até porque eles são parte da sociedade) !!!!!  É a mesma lógica das “bandas de gravadora” no mundo musical, onde são pagas pra compor e tocar músicas que se encaixem no gosto do público, onde a única coisa que importa é seu valor comercial. Logo, eles são tão talentosos quanto qualquer banda criada pra fazer sucesso no mainstream. (Exemplos tem de sobra por ai)
       A segunda questão é a que tem as consequências mais graves. Eles tem um total desconhecimento e desconsideração dos campos discursivos que legitimam formas e atos de violência na sociedade desde sempre .  Existe uma total ignorância de toda violência discursiva e simbólica que estes tipos de piadas trazem para a vida em sociedade, ajudando a legitimar milhares de assassinatos e outros vários tipos de violência contra todas as minorias (A ridicularização no negro através do humor era um dos pilares da segregação dos EUA por exemplo : “Jim Crow”) . As palavras não são apenas códigos, elas carregam toda uma história de significados, práticas, atos, desigualdades, etc. Logo, estes comediantes não querem levar a sério a sua extrema contribuição na construção de discursos que ao longo dos séculos vem desumanizando e legitimando práticas de barbárie e violência contra minorias no Brasil e no mundo ( Os números de assassinatos por homofobia, transfobia, racismo estão ai pra demonstrar isso).
        Se o Estado democrático de direito através de seus 3 poderes,  enquanto instituição “reguladora” da vida em sociedade, nao agir em casos de piadas que reforçam e inferiorizam grupos minoritários  (o que esses figuras chamam de “patrulha contra a liberdade de expressão”)  , quem o fará???  Me dá impressão que somente a violencia fisica eh passivel de ser punida pelo Estado. Formas de violência simbólica e discursiva , que são tão sérias e importantes quanto a violência física em si, podem viver escondidos atras da chamada “liberdade de expressão” ( pra mim eh pura desculpa para  - “posso ser preconceituoso praca, desumanizar minorias e legitimar acoes violentas contra as mesmas” ).
        Todo esse desconhecimento e descaso leva a minha terceira e última desconfiança sobre estes tipos que usam a famigerada expressão “Ditadura do políticamente correto” no dia a dia. A de que eles querem defender com unhas e dentes o status e a desigualdade de poder vigente. Como diz o documentário citado aqui neste artigo, Esses comediantes não tem absolutamente nada de transgressor, e sim o contrário, eles querem fazer de tudo pra reproduzir a sociedade como está, até porque é muito mais fácil ganhar dinheiro fazendo piada da forma que eles fazem, usando esses preconceitos – e além do que é um excelente álibi pra vomitar todas estas barbaridades e se eximir de toda a responsabilidade, Escondido através de uma suposta “liberdade de expressão”. ( Como diz o documentário, é possível você fazer piada sobre qualquer grupo social  - existem piadas sobre gays engraçadissimas -  a forma que é feita é que é a questão!)

Para mais informações assistam o documentário!!! Vale a pena!


domingo, 15 de julho de 2012

Eu também sou vadia: O Feminismo enquanto (minha) libertação masculina.

 


     Ontem (14/07/12), eu e meus amigos fomos participar da Marcha das Vadias aqui em Curitiba, e esse movimento me trouxe a vontade de escrever sobre algumas questões que ultimamente não saem de minha cabeça.
    Primeiramente convém explicar a origem desse movimento e suas principais razões de existência. A Marcha surgiu no Canadá em 2011, devido a uma fala extremamente infeliz de um policial canadense da cidade de Toronto responsabilizando as mulheres pelos crescentes casos de abuso sexual na região. O policial fez a seguinte observação: “as mulheres devem evitar se vestir como vadias (Slut) para não serem vítimas de abuso sexual”. Toda a carga de dominação patriarcal e preconceito desta frase fizeram com que diversos movimentos feministas no mundo todo organizassem protestos e insurgissem sua voz contra todas as formas de violência física e simbólica contra a figura da mulher.
    O Feminismo por si só foi um movimento que ao longo do século XX conquistou muitas coisas para uma relação mais igualitária na questão de gênero, principalmente na participação política (direito ao voto) e a uma maior participação e valorização feminina no mundo do trabalho. A participação da mulher na esfera pública (que a sociedade burguesa  delegou somente ao homem) foi uma conquista significativa ao longo do século.  Porém, no que se refere a violência contra a mulher  e o direito ao uso de seu corpo e de sua sexualidade, ainda existem tabus muito complicados de se derrubar.
   Os casos de violência contra a mulher no Brasil ainda são alarmantes, com milhares de mortes todos os anos, em diferentes tipos de violência (violência doméstica, abuso sexual, etc.). E apesar de casos cotidianos de horror e barbárie que vemos todos os dias na TV, e na internet, a sociedade brasileira não dá a devida importância. A questão aqui é se perguntar o porque da banalização de toda essa violência em nosso dia a dia,  a “coisificação” do corpo feminino e a dominação do discurso patriarcal sobre a sexualidade feminina legitima perfeitamente tudo isso. As mulheres ainda não têm o direito de exercer sua sexualidade na maneira que bem entendem. Nós homens a todo o momento queremos ditar regras de conduta e exercer controle sobre o corpo feminino. Por exemplo,  a mulher que decide usar seu corpo como fonte de prazer (como nós, homens, temos o privilégio de fazer todos os dias sem medo de ser feliz) são chamadas de tudo quanto é nome , passível de sofrer por todas as formas de violência moral e psicológica. Além do aspecto mais sombrio do machismo (causa de 99% casos de violência), que é crença que muitos homens tem de que podem invadir o corpo da mulher, tratando-as como meros objetos sexuais (agradeçam as propagandas de cerveja e aos filmes pornôs por isso...). Enfim, a Marcha das Vadias nasceu (no nome e na forma de protestar) com o intuito de lutar contra todo esse cotidiano sombrio nas relações de gênero.
   Quando comecei a me dar conta desse contexto, a partir de muitas leituras, e de conversas com meus amigos, percebi que o Feminismo é uma ótima oportunidade para nós homens podermos se libertar de alguns “fardos” que o discurso machista nos obriga a carregar. É discurso que nos levará a nossa “Revolução Sexual”.  Explico, todos os privilégios que temos (Homens) nas relações de gênero (O direito ao uso do corpo, passe livre na esfera pública, etc.) só podem ser exercidos a partir do momento em que nós nos comportemos seguindo um estereótipo do que é ser “Homem”. Ou seja, ter esse privilégio requer um modelo de conduta bem rígido. Exemplos, temos a todo o momento que ser a figura provedora da casa (o homem que decide cuidar da casa e dos filhos e delegar a figura provedora a sua mulher, já perde alguns pontos de masculinidade entre os amigos, além da descrença alheia, já que se criou a imagem de que o homem não tem a capacidade de cuidar  da família). Desde pequenos temos que gostar de azul e não usar rosa. Não podemos escolher empregos identificados com a figura da mulher.  Temos que se comportar como “machão” em diferentes situações, falar obrigatoriamente de assuntos masculinos (futebol, carros, etc.). Enfim, a nossa identidade e liberdade de escolha são cerceadas pelo discurso machista, que obrigam, nós homens, a se comportar a partir de um estereótipo que não faz mais sentido em pleno Século XXI. Por essas e outras, busco minha revolução e grito com orgulho, SOMOS TODAS VADIAS!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A desmoralização da ação política e o papel das ciências sociais


              Navegando pelas mídias sociais, lendo alguns autores Pós-coloniais (Stuart Hall especificamente) e em conversas com meus amigos da Universidade (Especialmente a minha amiga Dani Machado, a qual dedico este post), venho pensando de que forma  a ação e o pensamento político em um mundo individualizado pela sociedade do consumo vem sendo desmotivado e até desmoralizado tanto na mídia quanto nos meios acadêmicos. Por parte da mídia, já vemos desde sempre um processo de "criminalização" dos movimentos sociais organizados (especialmente no que se refere a questão da terra), e nos ultimos dias presenciamos também a mesma criminalização dos jovens que saíram em revolta na Inglaterra e no Chile contra um sistema que insiste em deixá-los a margem dos benefícios  e de qualquer tipo de perspectiva posítiva no mundo do capital. E no caso acadêmico, o medo dos intelectuais de tomarem posição frente aos problemas reais pelo fato de que estariam fugindo do discurso da "objetividade" e da "verdade" científica. Pretendo falar do papel das ciências sociais enquanto agente transformadora da sociedade( "deslocar as disposições de poder" como coloca Hall). Porém, vou começar com a questão da mídia e da sociedade em geral.
             Minha compreensão da "realidade" é extremamente influênciada por Michel Foucault, que diz que todas nossas relações sociais (pessoas, profissionais, de classe, gênero, raça, etc) são atravessadas por relações de poder. Deste modo, todas nossas ações e práticas estão inseridas em guerras entre diferentes discursos e visões de mundo, cada uma buscando se tornar hegemônica em relação as outras. O discurso hegemônico de nosso mundo atual, perpassa pela "esvaziação" do político e de qualquer projeto de transformação em um contexto dominado pela individualidade e pela sociedade do consumo. Neste contexto cultural, onde o status e o poder são determinados pela capacidade de consumo que as pessoas tem (Quantos mais carros, casas, roupas de marca eu tenho mais importante e poderoso sou...), não há espaço para discussões sobre projetos políticos de senso coletivo ou de mudança em um sistema que privilegia poucos e exclui o resto. Mais do que isso, criticar e falar sobre discursos que há muito tempo pendem a balança para uns poucos privilegiados (aqui parafraseio a Lola - "branco, homem, heterossexual, com capacidade de consumo") você já passa a ser rotulado como radical descontente que não tem o que fazer ("Feminazis", "Ditadura gay", "racista" são rótulos que vemos todo o dia no mundo virtual). Como a Dani disse uma vez, quem não faz parte dos privilegiados (neste caso mulheres, homossexuais, negros, pobres, etc.)  além de estarem em desvantagem nas disposições de poder não tem o direito de buscar estratégias para lutar nesse contexto desfavorável (Além da exclusão as vezes são obrigados a se calar!!!!)
            Do mesmo modo, a forma como a mídia (Inglesa, Chilena e Brasileira)  tratou as manifestações dos jovens tanto no Chile quanto na Inglaterra (chamando aquelas pessoas de vândalos desocupados que não tem nada o que fazer da vida) só corrobora essa idéia e o interesse de alguns em manter as coisas do jeito que está. Fechar os olhos e omitir dos espectadores o contexto de exclusão, preconceito e de falta de oportunidades que muitos chilenos e ingleses tem que se submeter a um sistema que funciona a partir dessa desigualdade é a forma encontrada pelos propagadores desse discurso pra desmotivar as pessoas a pensarem , agirem e se revoltarem contra o sistema (políticamente ou não). Toda a explosão de violência e revolta por parte desses jovens contra o sistema é resultado de anos acumulados de exploração, preconceito e repressão do governo inglês contra estas pessoas consideradas por boa parte da sociedade como menos importantes, pelo fato de não conseguirem fazer parte do mundo do consumo (se não consomem, logo não são nada!)
         E nas universidades (lugar onde as pessoas deveriam produzir conhecimento para a sociedade), as ciências sociais e humanas se vem esvaziadas de seu papel político e social de agente transformador de nossa realidade. Todos sabemos que existe um abismo entre o que é estudado na universidade e a "realidade" social da qual fazemos parte. Questões tão fundamentais à sociedade ocidental e brasileira como a educação e o respeito as diferenças não tem diálogo entre o que é estudado na academia e o que acontece no dia a dia das pessoas comuns. Tomar uma posição política e/ou ideológica na universidade é tratada com receio ou mesmo deboche por alunos (inseridos na sociedade de consumo) e/ou professores que se dizem defensores da cientificidade de seus saberes (o que pretensamente exige uma neutralidade "ideológica"). Deste modo, a universidade também parece se render a esta sociedade individualizada e de consumo, onde projetos de transformação social e de contestação não parecem fazer o menor sentido. 
        Por fim, tomando partido em busca de uma sociedade mais humana, mais democrática e menos desigual em um sistema que nao vai cair tão cedo, parafraseio o sociologo jamaicano Stuart Hall com relação ao papel das ciências sociais e da ação política no mundo atual, que diz que o "pensar" tem a importância social de deslocar as disposições de poder e democratizá-las. 
              

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Reflexões sobre o ateísmo radical e ao Deus "Ciência"

             Nas últimas semanas venho refletindo intensamente sobre o papel da Religião, da espiritualidade e do pensamento mítico nas sociedades humanas ao longo da História. Vivemos atualmente (Sociedade Ocidental) sob um discurso (moderno em sua essência, consolidado do século XIX) que define o pensamento científico e racional como o mais legítimo e portanto mais "verdadeiro" na interpretação dos fenômenos humanos e naturais em nosso planeta. A partir desse pensamento (hegemonico),  criou-se um discurso tratando os fenomenos e as manifestações religiosas como anomalias irracionais imcompreensíveis frente a um mundo moderno inteiramente explicado e analisado pela Ciência.
            Richard Dawkins e cia. culpabilizam os fenomenos religiosos (e a crença em DEUS) como  os responsáveis por todos os males economicos e sociais de países que ainda tem a religião como um de seus discursos hegemonicos. Assim como enfatizam o pensamento religioso como a única explicação no modus operandi de grupos terroristas em seus diversos ataques ao longo dos ultimos anos. Desta forma, estes "intelectuais" buscam inferiorizar e culpabilizar o pensamento mítico e religioso frente a uma falsa "objetividade" e "neutralidade" do pensamento científico. Basta lembrar que a "Era dos Extremos" (de horrores como o Holocausto Nazista e outros genocídios), como chamou o historiador inglês Eric Hobsbawm, é justamente o século que se diz o mais "evoluído" por subjulgar o pensamento mítico. Evoluído pra quem cara pálida?
            A questão aqui é que boa parte das pessoas que se dizem ateus e que defendem cegamente a descrença em Deus, tentando ridicularizar o pensamento religioso através da lógica científica não se dá conta que está sendo tão "crente" quanto qualquer radical religioso que nós encontramos por ai. Parafraseando Nietzsche, A partir do século XIX o Deus Ciência tira o Deus Cristão de seu trono e assume sua condição de "verdade inquestionável", assim como o Cristianismo era na Europa até a modernidade.
          Quem ridiculariza o pensamento religioso e a espiritualidade chamando de irracionalidade, imbecilidade  e/ou nem digna de estudo não consegue perceber a importância deste aspecto da vida humana em todas as sociedades do presente e do passado (A Antropologia nos mostra como o pensamento mítico é encontrado em todas as sociedades humanas já conhecidas). A busca pela espiritualidade, explicação e interpretação de onde somos e viemos, e as orientações morais da vida em sociedade nos definem enquanto seres humanos, assim como o uso da razão.
           Meu objetivo aqui não é simplesmente fazer uma defesa da religião ou dizer que ela é melhor ou pior que o pensamento científico. O que quero dizer é que tanto a cosmologia mítica e religiosa, quanto o pensamento racional científico são construções humanas que tem uma história e que mudam de cultura para cultura. São interpretações que o homem fez de seu mundo, e que ambas tem discursos e práticas que podem nos ajudar a viver harmonicamente em sociedade. (Assim como o contrário, já que são os humanos que constróem e interpretam estes discursos, para o bem e para o mal)
         Terminando meu protesto por aqui, só relembrando que (na minha opinião) o personagem mais significativo do século XX em compreensão do que é ser humano era um reverendo cristão (portanto religioso) norteamericano, ai fica minha homenagem a Martin Luther King Jr.
       E também dedico esse devaneio pseudo-intelectual...hahaha...a meu amigo João Paulo de BH...que morou comigo nos Estados Unidos e (com algumas de nossas conversas) me fez perder muitos dos preconceitos que eu tinha acerca da  religião (e de certa forma de seus praticantes) com sua generosidade, bondade e sabedoria sobre o que é ser humano e estar de bem com sua espiritualidade.

                                          Fuis!!!!

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A Aristocracia do Estado do Paranã!!!

          O Resultado das eleições de ontem (dia 03/10/2010) no âmbito estadual corroboraram uma tendência que já pode ser colocado na categoria de "Longa Duração" como fenômeno histórico. Exageros a parte, a população do Estado do Paraná vem elegendo uma mesma elite política a pelo menos 60 anos de nossa história política e eleitoral.
         Os sobrenomes Richa, Dias, Fruet, Stephanes, Curi, Requião, Lupion e etc...vem se elegendo ininterruptamente apesar de várias más administrações e de fortíssimas suspeitas de corrupção em nosso Estado. Primeiramente, é notável que os lideres do esquema de desvios de verba na Assembléia Legislativa através da criação de funcionários fantasma foram reeleitos com uma margem enorme sobre os demais candidatos. Além é claro da fácil eleição de Beto Richa, que carrega (além de sua jovialidade e cara de bom moço) o sobrenome de um dos grandes expoentes da elite política do Paraná no século XX que foi José Richa.
        A questão chave de tudo isso é a relativa tranqüilidade com que estes nomes circulam e se apoderam na máquina pública com a feliz certeza de que nas próximas eleições serão contemplados com os votos do povo paranaense. Justus e Curis da vida não sentem menor medo de se apoderarem do dinheiro público pelo fato da inevitabilidade de sua eleição no futuro. Me dá a impressão que quem vota nesse país (e nesse Estado) vota sempre no cara mais famoso (E ai entra a importância do sobrenome...do tempo na política) ou no cara que sempre aparece na mídia...só que o problema é, que os políticos que aparecem na mídia usualmente são os que estão envolvidos com casos de corrupção....hahaha!! E mais...como se a situação no nosso Estado fosse ótima...com explosão da violência e de demais problemas estruturais nos úlimos anos.
        Do jeito que a coisa anda...essas famílias e esta Aristocracia do Estado do Paranã vai continuar a se perpetuar ad infinitum... e juntamente com ela a tranquilidade pra algumas destas pessoas se aproveitarem de maneira ilícita de nossos impostos. Enquanto uma melhor instrução não chegar a boa parte de nossa população... Como nos livramos desse ciclo vicioso hein?? Sugestões???

Fabiano Atenas Azola

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O "Black and White" americano e o Racismo à Brasileira!

       Nos primeiros meses deste ano, tive a oportunidade de passar alguns meses nos Estados Unidos. E nessa pequena experiência de imersão cultural fiquei atento a uma questão que há muito tempo me interessa enquanto conhecimento e objeto de estudo. As relações raciais na cultura americana e sua comparação com o caso brasileiro

      Já é muito conhecido pelo público geral a história do pensamento e das relações raciais nos EUA e seu uso enquanto arma política e ideológica de classes dominantes e brancas sobre os recém-libertos e descendentes de escravos africanos na segunda metade do Século XIX e na primeira metade de Século XX. Em quase todos os estados sulistas deste país houve uma política deliberada de segregação racial, onde os negros eram proibidos (através das leis) de freqüentar certos lugares, estabelecimentos e ter certos tipos de propriedade, que eram exclusivamente reservados aos “brancos”. A justificativa desta política de exclusão se dava através de dois eixos discursivos. A primeira se dava através do viés religioso, que condenava os negros enquanto descendentes de Caim. E o chamado discurso “científico”, que através da pretensa prova cientifica da análise fenotípica (física) e cultural, “´provavam” que as pessoas de pele escura eram “diferentes” ( de outra “raça”) e necessariamente inferiores aos brancos na hierarquia racial. Também sabemos muito sobre a luta e o movimento dos direitos civis que na década de 50 finalmente conseguiu derrubar estas leis segregacionistas. Convém lembrar que até hoje a sociedade norte-americana ainda sofre de focos de racismo e de ignorância em todo o seu território.

        A questão chave é que todo este processo de segregação racial e de resistência dessas leis pelos negros norteamericanos acabou por formar uma “cultura negra” propriamente dita. Em pleno século XXI e 50 anos depois após os discursos de Martin Luther King Jr., os afro-americanos construíram suas próprias referências culturais e costumes que os definem enquanto “Negros”. Começando pela indústria cultural, criou-se um canal de TV destinado ao público negro (BET), com suas músicas, programas de TV criados e interpretados por negros. Nas livrarias, existe uma seção que é destinada somente aos livros de escritores afroamericanos que tem como público alvo os negros. Existem cidades, estados que são identificados com a cultura “afroamerican”. Ou seja, Como dizia um professor meu da faculdade, Nos EUA existe a questão do Michael Jackson, “Black or White”, ou você é “Black” (e para ser você precisa apenas de um pingo, uma pista de sangue negro – logo mulatos são necessáriamente“negros” ) ou “White”. Apesar do fim da segregação, a disparidade e as desigualdades (econômicas e sociais) entre brancos e negros ainda é significativa na sociedade dos EUA, e o racismo ainda é latente e visível.

        Pensando o caso brasileiro, As relações raciais e a ideologia da raça são bem distintas do caso americano. Primeiramente, apesar de toda a importância do racismo enquanto ideologia no final do século XIX e no início do século XX (que reforçava a superioridade dos brancos sobre os descendentes dos escravos africanos), ela não foi párea para a mistura que as relações sociais promoveram entre as pessoas de diferentes origens étnicas em nosso país. A figura do “mulato” veio para mudar a maneira como o racismo se manifesta em nossa pátria. Aqui, o racismo não é aberto como nos EUA, onde é fácil identificar quem é negro e quem não o é (pela diferença cultural). No Brasil, esta noção é difusa, o ser “negro” e identificar quem o é dependem de outras variáveis. Aqui no Brasil, a figura do “negro” (cor da pele) se confunde muito com sua condição econômica e social. O “negro” é confundido e identificado com a noção de pobreza e de condição social. Quanto mais rico o afrodescendente é, mais “branco” ele pode se tornar para a sociedade brasileira, e passível de “menos” preconceito. Outro fato importante a lembrar é o chamado mito da “democracia racial” e de uma pretensa ausência de racismo em nosso país justamente pela intensa mistura de povos de origens étnicas distintas. Ora pois, o Brasil possuí uma desigualdade social baseado na cor da pele e na noção de “raça” (diferença no poder aquisitivo, educação e acesso a ela) maior que a sociedade teóricamente “segregada” que é a norte-americana.

        Deste modo, é muito mais difícil combater o Racismo num país que, apesar de todas as evidências destas desigualdades que a cor da pele e a origem social proporcionam, se acomoda sobre uma pretensa “democracia” e igualdade entre todos os povos e raças. Refletindo sobre pensamento racial no Brasil, somos tão ou mais hipócritas e/ou omissos que os norteamericanos nesta questão, e em nosso país acho muito mais problemático combater e se defender desta ideologia da raça que ainda persiste em nossa sociedade. É por isso que entendo e até defendo o aparecimento e execução de políticas afirmativas que tentam amenizar este problema histórico (Cotas nas Universidades por exemplo). Em tempos de multiculturalismo e de respeitos às diferenças, Os racismos (idéias do século XIX) ainda nos assombram e nos perseguem.



             É isso.



            Fabiano Atenas Azola