sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A desmoralização da ação política e o papel das ciências sociais


              Navegando pelas mídias sociais, lendo alguns autores Pós-coloniais (Stuart Hall especificamente) e em conversas com meus amigos da Universidade (Especialmente a minha amiga Dani Machado, a qual dedico este post), venho pensando de que forma  a ação e o pensamento político em um mundo individualizado pela sociedade do consumo vem sendo desmotivado e até desmoralizado tanto na mídia quanto nos meios acadêmicos. Por parte da mídia, já vemos desde sempre um processo de "criminalização" dos movimentos sociais organizados (especialmente no que se refere a questão da terra), e nos ultimos dias presenciamos também a mesma criminalização dos jovens que saíram em revolta na Inglaterra e no Chile contra um sistema que insiste em deixá-los a margem dos benefícios  e de qualquer tipo de perspectiva posítiva no mundo do capital. E no caso acadêmico, o medo dos intelectuais de tomarem posição frente aos problemas reais pelo fato de que estariam fugindo do discurso da "objetividade" e da "verdade" científica. Pretendo falar do papel das ciências sociais enquanto agente transformadora da sociedade( "deslocar as disposições de poder" como coloca Hall). Porém, vou começar com a questão da mídia e da sociedade em geral.
             Minha compreensão da "realidade" é extremamente influênciada por Michel Foucault, que diz que todas nossas relações sociais (pessoas, profissionais, de classe, gênero, raça, etc) são atravessadas por relações de poder. Deste modo, todas nossas ações e práticas estão inseridas em guerras entre diferentes discursos e visões de mundo, cada uma buscando se tornar hegemônica em relação as outras. O discurso hegemônico de nosso mundo atual, perpassa pela "esvaziação" do político e de qualquer projeto de transformação em um contexto dominado pela individualidade e pela sociedade do consumo. Neste contexto cultural, onde o status e o poder são determinados pela capacidade de consumo que as pessoas tem (Quantos mais carros, casas, roupas de marca eu tenho mais importante e poderoso sou...), não há espaço para discussões sobre projetos políticos de senso coletivo ou de mudança em um sistema que privilegia poucos e exclui o resto. Mais do que isso, criticar e falar sobre discursos que há muito tempo pendem a balança para uns poucos privilegiados (aqui parafraseio a Lola - "branco, homem, heterossexual, com capacidade de consumo") você já passa a ser rotulado como radical descontente que não tem o que fazer ("Feminazis", "Ditadura gay", "racista" são rótulos que vemos todo o dia no mundo virtual). Como a Dani disse uma vez, quem não faz parte dos privilegiados (neste caso mulheres, homossexuais, negros, pobres, etc.)  além de estarem em desvantagem nas disposições de poder não tem o direito de buscar estratégias para lutar nesse contexto desfavorável (Além da exclusão as vezes são obrigados a se calar!!!!)
            Do mesmo modo, a forma como a mídia (Inglesa, Chilena e Brasileira)  tratou as manifestações dos jovens tanto no Chile quanto na Inglaterra (chamando aquelas pessoas de vândalos desocupados que não tem nada o que fazer da vida) só corrobora essa idéia e o interesse de alguns em manter as coisas do jeito que está. Fechar os olhos e omitir dos espectadores o contexto de exclusão, preconceito e de falta de oportunidades que muitos chilenos e ingleses tem que se submeter a um sistema que funciona a partir dessa desigualdade é a forma encontrada pelos propagadores desse discurso pra desmotivar as pessoas a pensarem , agirem e se revoltarem contra o sistema (políticamente ou não). Toda a explosão de violência e revolta por parte desses jovens contra o sistema é resultado de anos acumulados de exploração, preconceito e repressão do governo inglês contra estas pessoas consideradas por boa parte da sociedade como menos importantes, pelo fato de não conseguirem fazer parte do mundo do consumo (se não consomem, logo não são nada!)
         E nas universidades (lugar onde as pessoas deveriam produzir conhecimento para a sociedade), as ciências sociais e humanas se vem esvaziadas de seu papel político e social de agente transformador de nossa realidade. Todos sabemos que existe um abismo entre o que é estudado na universidade e a "realidade" social da qual fazemos parte. Questões tão fundamentais à sociedade ocidental e brasileira como a educação e o respeito as diferenças não tem diálogo entre o que é estudado na academia e o que acontece no dia a dia das pessoas comuns. Tomar uma posição política e/ou ideológica na universidade é tratada com receio ou mesmo deboche por alunos (inseridos na sociedade de consumo) e/ou professores que se dizem defensores da cientificidade de seus saberes (o que pretensamente exige uma neutralidade "ideológica"). Deste modo, a universidade também parece se render a esta sociedade individualizada e de consumo, onde projetos de transformação social e de contestação não parecem fazer o menor sentido. 
        Por fim, tomando partido em busca de uma sociedade mais humana, mais democrática e menos desigual em um sistema que nao vai cair tão cedo, parafraseio o sociologo jamaicano Stuart Hall com relação ao papel das ciências sociais e da ação política no mundo atual, que diz que o "pensar" tem a importância social de deslocar as disposições de poder e democratizá-las.